Imeru Café: da comunidade indígena Kauwê ao mundo com apoio do Sebrae Roraima
07/10/2025
(Foto: Reprodução) : Ana Karoliny, empreendedora da comunidade Kawuê, compartilha sua jornada empreendedora com o Sebrae Roraima
José Magno/Sebrae-RR
Pacaraima, fronteira entre Brasil e Venezuela, costuma ser lembrada pelas histórias de trânsito intenso, comércio local e movimentos migratórios. Mas foi também ali, em meio às montanhas e à tradição da comunidade indígena Kauwê, que nasceu uma das iniciativas mais emblemáticas do novo empreendedorismo roraimense: o Imeru Café, primeira marca de café arábica indígena da região amazônica..
O nome, escolhido por Ana Karoliny em meio à pandemia, carrega o significado profundo da palavra “Imeru” — “cachoeira” na língua Makuxi —, símbolo da força e da fluidez que movem a vida comunitária. Com apenas quatro anos de trajetória, a empresa já ultrapassou fronteiras e conquistou reconhecimento nacional e internacional. Mas por trás dessa história de sucesso há um elo essencial: a parceria com o Sebrae Roraima, instituição que completa 35 anos no próximo 5 de outubro e que se tornou parte inseparável da caminhada de Ana e de milhares de empreendedores da Amazônia.
A propriedade da família de Ana Karoliny em Pacaraima
Reprodução/Redes sociais
A decisão que mudou o rumo da vida
Filha de agricultores, Ana cresceu vendo o pai plantar, colher e vender produtos do sítio. Essa vivência despertou cedo o olhar para os negócios. Ainda assim, o destino parecia ser outro: a medicina. Até que, durante a pandemia, ao cuidar da mãe após um acidente, Ana decidiu trancar a faculdade e dar atenção a algo que surgia quase como um chamado: transformar as mudas de café que a família cultivava em um negócio sólido.
“Em seis meses, o Imeru nasceu. Criamos uma marca, apresentamos o produto e já havia gente querendo levar nosso café para outros estados. Era o primeiro café arábica indígena da região norte. Quando percebi, não tinha mais como voltar atrás”, relembra a empreendedora.
Esse primeiro passo abriu um caminho de desafios: aprender a lidar com mercado, estrutura de empresa, vendas, clientes e, principalmente, entender o valor de um café especial. Foi então que Ana buscou o Sebrae Roraima.
Ana Karoliny fala sobre as conquistas e oportunidades alcançadas com o Sebrae Roraima
Arquivo pessoal
O Sebrae como guia de uma nova etapa
Se os primeiros meses foram de intuição e ousadia, o Sebrae ajudou a dar forma, estratégia e visão de futuro ao Imeru Café. Consultorias presenciais e online levaram conhecimento técnico diretamente à comunidade Kauwê. “Nós sentávamos por horas em torno da mesa, entendendo como funcionava o empreendedorismo, o turismo, a estrutura de um negócio. O Sebrae esteve presente desde o início, organizando e nos dando direcionamento”, conta Ana.
Com o apoio da instituição, o Imeru estruturou o Café da Manhã Indígena, um espaço de visitação turística que une hospitalidade, cultura e gastronomia amazônica. A ação não só fortaleceu o empreendimento, mas também trouxe ganhos para toda a comunidade, que passou a participar do processo e entender a importância da profissionalização.
Essa é uma das marcas do Sebrae ao longo de seus 35 anos: levar soluções personalizadas a realidades distintas, reconhecendo que cada empreendedor carrega não só um negócio, mas também uma história, uma identidade e, muitas vezes, uma comunidade inteira.
Crescimento, visibilidade e novos horizontes
Com a parceria, o Imeru passou a participar de editais, rodadas de negócio, missões técnicas e programas estratégicos como Empretec, SebraeTec e Inova Amazônia. Também esteve presente em eventos internacionais, como a Lac Flavors, em Manaus, que conecta produtos da bioeconomia amazônica a compradores de outros países.
Os resultados são visíveis: de 90 mudas de café no início, hoje já são cerca de 9 mil plantas em produção, com 3 mil prestes a iniciar colheita. A marca ganhou espaço em diferentes estados brasileiros e já construiu um plano de exportação em parceria com a Apex Brasil, com olhos voltados para o mercado global.
“A gente sempre diz que o Imeru andou em quatro anos o que poderia ter levado 15 anos. O Sebrae acelerou nossos passos e nos mostrou que era possível sonhar grande”, afirma Ana.
Sebrae Roraima e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
O trabalho com o Imeru e com tantas outras iniciativas apoiadas pelo Sebrae dialoga diretamente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para 2030. Este foi um compromisso firmado pelo Sebrae Roraima, a partir da compreensão de que apoiar os pequenos negócios vai além de impulsionar a economia: é também promover inclusão, reduzir desigualdades e garantir que o desenvolvimento aconteça de forma equilibrada entre pessoas, planeta e prosperidade.
● ODS 8 (Trabalho decente e crescimento econômico): ao apoiar empreendedores locais, o Sebrae estimula geração de renda, empregos e competitividade.
● ODS 10 (Redução das desigualdades): dar visibilidade a negócios indígenas e comunitários significa inserir vozes historicamente marginalizadas no mercado nacional e internacional.
● ODS 12 (Consumo e produção responsáveis): ao valorizar o café indígena, cultivado de forma sustentável, o Sebrae promove práticas que respeitam o meio ambiente e a cultura local.
● ODS 17 (Parcerias e meios de implementação): a atuação junto à Apex Brasil, instituições financeiras e programas nacionais mostra como a cooperação multiplica oportunidades.
Orgulho que transborda da comunidade
Ana sempre reforça que sua trajetória não é individual. “No contexto indígena, não somos sozinhos. Para levar o Imeru para fora, preciso que minha comunidade esteja de acordo. O Sebrae ajudou não só a minha marca, mas também a comunidade como um todo, ampliando a visão de que o indígena pode produzir e oferecer qualidade ao mundo. ”
Esse protagonismo coletivo fortalece a autoestima da comunidade Kauwê e projeta Roraima como polo de inovação no cenário da bioeconomia amazônica.
Sebrae 35 anos: presente, passado e futuro
Desde 1989, o Sebrae Roraima tem sido parceiro de empreendedores de diferentes perfis: do pequeno comércio na capital aos negócios comunitários nas áreas mais remotas do Estado. A cada década, a instituição se reinventou para atender novas demandas: a digitalização, a internacionalização, a sustentabilidade e, sobretudo, a valorização das identidades locais.
A história de Ana Karoliny e do Imeru Café simboliza o que o Sebrae construiu em 35 anos: confiança, transformação e futuro.
“Eu sinto orgulho, felicidade e alegria por levar o nome da minha comunidade para outros lugares. O Imeru é a prova de que, com apoio, o empreendedor amazônico pode conquistar o mundo. E o Sebrae faz parte disso desde o primeiro passo”, resume Ana.
Ao completar 35 anos, o Sebrae Roraima celebra a jornada de cada empreendedor que acreditou no sonho de transformar uma ideia em negócio. A cada história como a de Ana, renova-se o compromisso com o futuro: continuar levando soluções a quem empreende, em qualquer canto de Roraima, com o olhar voltado para os grandes desafios globais e locais.
