Indígenas fazem plantio inédito com método que ajuda a restaurar áreas devastadas em Roraima
10/07/2025
(Foto: Reprodução) Ideia é que o primeiro plantio funcione como modelo para instituições e pessoas interessadas em adquirir sementes coletadas por indígenas. Método da "muvuca de sementes" consiste em misturar diversas espécies nativas em uma mesma área para promover o reflorestamento. Semeadura ocorreu no centro das comunidades Canauanim, Malacacheta e Tabalascada
Fabrício Marinho/Platô Filmes/Redário/ISA
Indígenas na região da Serra da Lua fizeram o primeiro plantio de sementes voltado à recuperação de uma área degradada em Roraima. A iniciativa, inédita no estado, utilizou a técnica conhecida como "muvuca", em que ocorre a mistura de sementes de diversas espécies para o plantio num mesmo espaço e marcou o início das atividades da Rede de Sementes da Serra da Lua (Ressel).
Formada por 38 indígenas que atuam como coletores das sementes usadas para restaurar áreas degradadas, a Ressel começou os trabalhos no ano passado, quando indígenas aprenderam sobre o método da muvuca de sementes . Desde então, colocaram o conhecimento em prática e coletaram 270 kg de 32 espécies de sementes de espécies nativas de Roraima.
Na primeira semeadura, foram usados 20 kg de sementes plantadas em meio hectare numa região que abrange as comunidades Tabalascada, Canauanim e Malacacheta. A área era usada como pasto por uma antiga fazenda, que atualmente pertence à região.
Trinta e duas espécies de sementes foram usadas na primeira muvuca em Roraima
Fabrício Marinho/Platô Filmes/Redário/ISA
O restante das sementes (250 kg) deve ser comprado pelo Instituto Socioambiental (ISA) e utilizado na recuperação de outras áreas devastadas da mesma região. A instituição é parceira e apoiadora da Ressel.
A ideia é que esse primeiro plantio se torne um modelo da importância da Rede tanto para o reflorestamento com espécies nativas, quanto para a geração de renda, tendo em vista que os indígenas podem vender as sementes que coletam.
"Vai servir como uma vitrine para os futuros compradores. Nossa ideia agora é começar a buscar compradores [para as sementes coletadas pelos indígenas]", destacou Emerson Cadete, analista técnico ISA, que apoia os coletores da Ressel.
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Entre as espécies plantadas nesta primeira fase estão árvores frutíferas como caju e taperebá, e espécies de uso tradicional, como o pau-rainha, usado na construção de casas pelos indígenas. Durante a ação, no fim de junho, lideranças reforçaram a importância de envolver a juventude e toda a comunidade no processo de reflorestamento e cuidado com o território.
"Gostaria que toda a juventude e as pessoas da comunidade Canauanim conhecessem mais deste projeto e da importância de reflorestar. Tenho certeza que daqui a 10 anos veremos um resultado excelente de combate às queimadas e derrubadas no nosso território", destacou Helinilson Nicacio Cadete, tuxaua da comunidade Canauanim.
Alcinete Pinho Cadete, coletora e elo da comunidade Canauanim
Fabrício Marinho/Platô Filmes/Redário/ISA
A agricultora familiar Alcineia Pinho Cadete participou do treinamento em maio do ano passado e se tornou uma das coletoras da rede. No dia do primeiro plantio, celebrou o início das atividades práticas, que também envolvem os conhecimentos tradicionais indígenas.
"Ser coletor, já somos há muito tempo por sermos indígenas, por ter vivência com a natureza e por desde a infância trabalharmos com as sementes para os nossos artesanatos e para medicina tradicional. E agora, existe este projeto de coleta das sementes para fazer reflorestamento de áreas degradadas", frisou.
Agora, a Ressel de Roraima está em processo para se integrar ao Redário, uma articulação nacional que reúne 27 redes de coletores de sementes em diferentes estados do país. Segundo o ISA, são mais de 2.500 envolvidas no Redário, sendo mais da metade mulheres. Só em 2024, mais de 106 toneladas de sementes foram vendidas pelas redes do grupo.
O projeto que criou a Ressel faz parte leva o nome de "Produção de sementes nativas e restauração ecológica", iniciativa do ISA e que tem como objetivo incentivar as comunidades indígenas a restaurar a vegetação de áreas consumidas por queimadas e pelo desmatamento.
Indígenas aprendem técnica de plantio com sementes nativas para reflorestamento
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