Presidente da Câmara de Boa Vista é cassado por compra de votos e abuso de poder econômico
20/11/2025
(Foto: Reprodução) Genilson Costa (Solidariedade), presidente da Câmara Municipal de Boa Vista
Caíque Rodrigues/g1 RR
O vereador Genilson Costa (Republicanos), presidente da Câmara Municipal de Boa Vista, teve o mandato cassado pela Justiça Eleitoral por envolvimento em um esquema de compra de votos e uso de recursos ilícitos durante a campanha de 2024.
A decisão é do juiz Angelo Augusto Graça Mendes, da 5ª Zona Eleitoral de Roraima e foi publicada nesta quarta-feira (19). Genilson pode recorrer à decisão ainda no cargo de vereador e presidente da Casa.
Por meio de nota, Genilson Costa afirmou que recebe "com tranquilidade a decisão de primeira instância que cassou" o mandato dele "por entender que ela será revertida em instância superior, uma vez que a defesa apresentada nos autos foi desconsiderada nesta fase do processo".
"Aproveito para esclarecer à população que permaneço no cargo e à frente da Câmara Municipal de Boa Vista, reafirmando o compromisso em prol da população da nossa cidade", disse.
De acordo com a sentença, Genilson comandava uma estrutura “complexa e articulada” voltada para a compra massiva de votos, abastecida por mais de R$ 4 milhões em recursos não declarados, muito acima dos valores oficiais da campanha.
O juiz também decretou a inelegibilidade por 8 anos e aplicou multa no valor máximo previsto na lei.
“A materialidade da captação ilícita foi evidenciada pelo flagrante […] onde eleitores eram encontrados portando valores e santinhos de Genilson Costa, confirmando terem recebido dinheiro em troca do voto", disse o juiz na decisão.
Genilson chegou a ser preso pela Polícia Federal, junto com o então subcomandante-geral da Polícia Militar (PM), coronel Francisco das Chagas Lisboa, em dezembro de 2024, na Operação Martellus, que investigou o apoio financeiro do tráfico de drogas para compra de votos nas eleições municipais de 2024.
Além da cassação do vereador, o juiz declarou inelegíveis por oito anos outras 13 pessoas apontadas como participantes do esquema, incluindo:
Natalie da Silva Guimarães, esposa do vereador;
Geisa Costa e Silva, irmã do vereador;
Ex-servidores da Câmara Municipal;
Coordenadores de campanha e operadores financeiros.
A sentença relata que esses colaboradores atuavam na distribuição de valores, controle de listas, transporte irregular de eleitores e repasse de informações sobre o avanço da operação.
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Vereador Genilson Costa (Republicanos) com a esposa, a policial civil Natalie Guimarães
Reprodução/Instagram/vereadorgenilsoncosta
A decisão descreve que o grupo mantinha listas de eleitores, planilhas, registros de pagamentos e atuava por meio de um grupo de WhatsApp chamado “Os Top 100”, que funcionava como central de comando do esquema.
Segundo a investigação, eleitores eram pagos principalmente com valores entre R$ 100 e R$ 150. A operação que revelou o esquema começou após um flagrante da Polícia Federal em 5 de outubro de 2024, véspera do pleito, quando vários eleitores foram encontrados com dinheiro vivo e santinhos do vereador.
"[...] apontaram distribuição padronizada de valores na faixa de R$ 150,00 por eleitor e movimentação, apenas em parte do período, de R$ 1.497.450,00 destinados a 9.983 eleitores, com estimativa global superior a R$ 4.000.000,00 (quatro milhões de reais), cifra bastante superior aos recursos oficialmente declarados perante a Justiça Eleitoral (R$ 514.931,25) e ao patrimônio declarado do candidato (R$ 120.000,00)", destacou o juiz na decisão.
No dia da eleição, a PF cumpriu mandado de busca na casa de Genilson, onde encontrou dinheiro, armas de fogo, ouro em estado bruto e celulares. O conteúdo de mensagens, segundo o Ministério Público Eleitoral, reforçou que o candidato coordenava pessoalmente a operação.
Eleitores flagrados pela PF prestaram depoimentos confirmando que receberam dinheiro para votar no vereador. Um deles afirmou ter “comercializado seu voto” diretamente para colaboradores de Genilson.
O juiz considerou que as provas testemunhais, documentos e indícios digitais mostram um esquema “profissionalizado”, com alcance suficiente para influenciar o resultado da eleição.
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Genilson Costa é investigado pela Justiça por suspeita de integrar um esquema de tráfico de drogas em Roraima. Segundo o Ministério Público de Roraima (MPRR), autor da acusação, Genilson chegou a fazer negociações de drogas de dentro do gabinete da Casa. À época, ele negou as acusações.
Ele segue para o 6º mandato como vereador, somando as vezes em que foi eleito também no interior. Na biografia, afirma que tem como bandeiras na Câmara o desenvolvimento regional, a valorização do servidor público, a agricultura, o esporte e o lazer.
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